Bodas de Caná: o 1º sinal de Jesus no Evangelho de João |
Os sete sinais de João
1) Transformação da água em vinho (Jo 2): sem paralelismos
2) Cura do filho do funcionário real (Jo 4,46-54): paralelo em Lc 7,1-10 e Mt 8,5-13
3) Cura de um paralítico (Jo 5,1-18): semelhança com Mc 2,1-12
4) Multiplicação dos pães (Jo 6,1-15): paralelo em Mc 6,32-44
5) Jesus caminha sobre as águas (Jo 6,16-21): paralelo em Mc 6,45-52 e Mt 14,22-33
6) Cura de um cego (Jo 9,1-7): semelhança com Mc 8,22-26 e Mc 10,46-52
7) Ressurreição de um morto (Jo 11,1-46): semelhança com Lc 7,11-17 e Mc 5,21-43
Para a redação do Evangelho de João, a hipótese de um mini-evangelho base – fundamentalmente constituído por narrativas dos sinais de Jesus – que se amplia através de diálogos e controvérsias, continua sendo a mais provável.
Esta obra não apresenta simplesmente um conjunto de dados e tradições sobre Jesus, mas há um aprofundamento dos mesmos. Este aprofundamento leva a um enriquecimento do sentido original da tradição, em função das questões e das preocupações da comunidade à qual este evangelho foi dirigido.
O significado dos “sinais”
João não utiliza a palavra dynamis (atos poderosos que acompanham a presença ativa do reino entre os homens, na tradição sinótica) para se referir aos gestos de Jesus, nem narra exorcismos. Isso acontece porque a temática joanina não é a implantação do reino/expulsão do demônio através dos dynameis. Esse é o motivo dessa palavra não constar nesse evangelho.
Por outro lado, a palavra semeion (sinal), tal como é vista nos sinóticos, não é utilizada da mesma forma em João. Para os sinóticos, semeion pode designar:
1) Sinais dos últimos tempos que antecedem a parusia (Mt 24,3.24.30)
2) Prova apologética que legitima as atividades de Jesus (Mt 12,38-39; 16,1-4; Lc 23,8), com um sentido pejorativo. Aqui, há a semelhança em Jo 2,18 e 6,30.
3) Expressão que designa os “milagres” de Jesus e dos apóstolos: sinais e prodígios (teras)
Em João, à primeira vista, os semeion estão ligados à fé, eles suscitam a fé:
1) 2,11: Caná e a fé dos discípulos
2) 2,23: Jerusalém crê
3) 3,2: Nicodemos vai até Jesus por causa dos sinais
4) 4,54: fé do funcionário real por causa do sinal
5) 7,31: a vinda do Messias é o maior sinal
6) 9,16: um pecador não pode fazer sinais
7) 10,41: João Batista não fez sinais
8) 11,47: Jesus faz sinais e todos crerão
9) 12,37: Jesus faz sinais e não creram
10) 20,30: Jesus faz sinais para que creiam
No entanto, Jesus refuta os sinais como prova apologética (Jo 2,18 e 6,30) e desconfia da fé que vem dos sinais (Jo 2,23; 3,2 e 6,26). Na verdade, nem sempre os sinais conduzem à fé (Jo 6,26 e 12,37). O sinal não é imprescindível para a fé (“bem-aventurados os que não viram e acreditaram” Jo 20,29). Assim sendo, os sinais são uma manifestação da glória para aqueles que estão dispostos a penetrar no mistério de Jesus.
Os sinais joaninos têm um antecedente claro e definitivo no Antigo Testamento: os sinais que Deus realiza por seu povo no êxodo rumo à liberdade (Ex 10,1; Nm 14,11-22; Dt 7,19; 29,1-3).
O que caracteriza os sinais joaninos é o seu sentido revelador: em Jesus já chegou a salvação final